O que é Solarpunk ?
Tradução da fala do pensador anarquista youtuber, Saint Andrew . O vídeo original pode ser encontrado no final da publicação.
Introdução
Solarpunk é tudo que envolve a imaginação positiva do nosso futuro coletivo e a sua criação. Seu nome deriva do gênero cyberpunk, e de todos os outros punks que vieram dele.
Existe o steampunk, que tem como foco a Revolução Industrial e tecnologias movidas a vapor. É um dos mais populares depois do cyberpunk. Existe o dieselpunk, que foca nas criações do período do entreguerras. Existe o atompunk, que foca na energia atômica. Steelpunk, focado em objetos do fim do século 20. Stonepunk, que é do neolítico. Existe até mesmo o nowpunk, que se passa… nos dias de hoje. Solarpunk é uma visão positiva de um futuro possível, baseada no nosso mundo, que enfatiza a necessidade da sustentabilidade ambiental, auto determinação, e justiça social. É um movimento dedicado a fins humano-cêntricos e eco-cêntricos. Ele olha para além das limitações do capitalismo e para além da atual divisão entre a humanidade e a natureza. É um futurismo que foca no que devemos esperançar mais do que o que devemos evitar.
Solarpunk reconhece que as mudanças climáticas, as consequências de séculos de danos, não foram totalmente evitadas no futuro. Ainda assim, ele nos tras esperança. Um futuro onde temos muito trabalho a ser feito, mas onde estamos nos saindo melhor. Onde estamos usando tecnologias para fins melhores. Como drones carregando bombas de sementes e fornos solares. Solarpunk enfatiza aplicações no mundo real. É tudo sobre o que podemos fazer aqui e agora, de projetos de faça você mesmo a organizações maiores. Solarpunk também é bastante estético, como você deve ter percebido. Ele usa muitos elementos da natureza e tem a art noveau como inspiração, upcycling, e estilos de design e movimentos artísticos asiáticos e africanos.
Nota: Deixe eu falar rapidinho sobre o que solarpunk não é. Não é sobre colocar flores e árvores em prédios de concreto ou arranhacéus de aço com um pouquinho de grama. Isso é greenwashing, que é ter a aparência de sustentabilidade, mas na realidade ser prejudicial ao meio ambiente. Muita água é usada na manutenção desses prédios “verdes” e eles geralmente não são construídos com materiais sustentáveis ou duráveis. Não seja tapeado.
No curto tempo desde que foi concebido, solarpunk encontrou seu lugar na mídia contemporânea. É um gênero literário que vem sendo retroativamente dado a diferentes coisas, desde que o termo ficou realmente popular em 2014. Solarpunk, por exemplo, inclui filmes como Princesa Mononoke de Miyazaki, ou literatura, como The Fifth Sacred Thing de Starhawk.
Cyberpunk pode ser sombrio e deprimente, explorando um mundo onde o poder darscorporações não encontra limites, mas o solarpunk rejeita isso inteiramente. Ele enfatiza a vida coletiva e a realização tanto da natureza quanto da humanidade em uma relação mutuamente benéfica.
Uma Breve História do Solarpunk
Por volta de 2008 um blog chamado Republic of the Bees publicou, “From Steampunk to Solarpunk”, onde conceituava solarpunk como um gênero literário inspirado pelo steampunk. Houveram alguns artigos e um ou dois outros textos, mas o que ganhou mais popularidade foi o post no tumblr Miss Olivia Louise em 2014, estabelecendo algumas das estéticas do solarpunk. Quote:
“Um mundo no qual crianças crescem sendo ensinadas sobre como construir eletrônicos tão bem quanto manejar hortas e outras habilidades, e as pessoas voltaram a apreciar artesanatos e artesãs, de pedreiros e ferreiros, a costureiros e ourives.”
O post dela depois serviu de referência para Adam Flynn, em seu Notes Towards a Manifesto no fim de 2014. Ele descreve a dificuldade de ser um futurista com menos de 30, observando o mundo mergulhar rumo ao cyberpunk, com a sempre presente ameaça existencial das mudanças climáticas. Solarpunk para ele, é a única alternativa contra a negação ou o desespero. Ele rejeita a abordagem individualista e insustentável de alguns futuristas, que se recusam a considerar o limite de energia da Terra. Solarpunk é sobre “inventividade, pedagogia, independência e comunidade”. Leva o sufixo punk pois se opõe ao nosso mundo como ele existe hoje. Ele cria resiliência local, dos telhados com painéis solares a jardinagem de guerrilha, as autoridades que se fodam. E finalmente, um grupo chamado The Solarpunk Community publicou Un Manifiesto Solarpunk em 2019. É um artigo curto, escrito em espanhol, que basicamente reitera algumas das ideias anteriores, em mais detalhes.
Sobre meu relacionamento com solapunk, eu estou nessa há bastante tempo. Não consigo lembrar exatamente quando ouvi sobre pela primeira vez, mas provavelmente foi no Tumblr. Também foi no Tumblr onde eu fui introduzido aos conceitos básicos de políticas progressistas e revolucionárias.
Política & Arte Solarpunk
Por mais que solarpunk nunca tenha se ligado a uma ideologia política específica, ele foi abraçado por políticas liberatórias de todos os tipos. De ecologistas sociais a anarquistas pós civ, a socialistas verdes. A filosofia do solarpunk e as políticas do anarquismo são particularmente feitas uma para a outra. O anarquismo enfatiza liberdade pessoal e libertação coletiva de hierarquias, autoritarismo, e exploração. Ele busca, como projeto contínuo, posse comum, cooperação voluntária, organização horizontal, e apoio mútuo. O anarquismo tem estado a frente de seu tempo em várias questões políticas, da libertação feminina e queer, e sua abordagem com relação a ecologia não tem sido diferente.
Solarpunk pode ser facilmente sintetizado com o anarquismo, e com muitas de suas várias vertentes conforme ele explora as possibilidades de tecnologias liberatórias, a localização da produção, um fim para o consumo destrutivo e cheio de desperdícios, e uma reorientação da nossa relação com o trabalho, a natureza e nós mesmos.
Tudo isso soa muito bonito e inalcançável. Mas eu quero falar para aqueles que perderam a esperança em um mundo melhor. Que estão paralisados pensando que onde estamos hoje, é o melhor que nós podemos fazer. Existe essa ideia na política contemporânea que imaginação não tem lugar no nosso mundo “pragmático”. O que é simplesmente falso. Humanos são criaturas flexíveis, capazes de um imenso espectro de estruturas sociais. Se todos limitassem a si mesmos aos limites do que está dado, nós não estaríamos aqui hoje. É hora de dar alguns passos adiante, com táticas variadas em mãos.
Uma delas é a arte. Arte tem uma influência tremenda em nós. Música, livros, pinturas, programas de televisão, filmes, etc, eles moldam nossas ideias do que a humanidade pode ser. Ainda não temos grandes exemplos de arte e entretenimento solarpunk, acredito que nós podemos mudar isso. Existem histórias interessantes há serem exploradas e debates a serem feitos através da arte. Imagine uma livro que explore os diferentes lados e dimensões do debate do consumo da carne em um mundo solarpunk ou um gibi que segue a jornada de uma comunidade que busca repovoar e ressuscitar a ecologia ao seu redor.
Ou imagine isso. Talvez ao junto com um jogo que imagina um final horrendo que mantém o capitalismo, como Cyberpunk 2077, nós imaginemos um jogo inspirador, ainda que desafiador que exercite nossa habilidade de balancear as necessidades do nosso ecossistema e lide com decisões difíceis, e conflitos que surgem conforme nós reorientamos nosso lugar no mundo. Pode chamar de Solarpunk 2033 ou algo assim. Essa é uma ideia grátis.
Conclusão
Existem inúmeras maneiras de incorporar solarpunk em sua vida e em seus coletivos. É bastante compatível com prefiguração. Solarpunk é realmente algo que você pode criar no mundo real e praticar, e espalhar. Solarpunks podem ajudar a criar o futuro que eles querem de várias maneiras, do faça você mesmo básico de workshops de cultura maker a criação e expanção de maneiras ecológicas de se viver e autonomia local em nossas cidades. Solarpunk é uma peça importante em um mosáico de possibilidades que centram a adaptabilidade humana e a proteção da natureza, que nosso mundo atual está organizado para destruir, mas que nosso mundo futuro deve priorizar.
“Solarpunk é um futuro com um rosto humano e sujeira atrás das orelhas.”